Pássaro de ferro

passaro-de-ferro

Dia e noite no galho do limoeiro
sua companheira se cansou de esperar
nessa mata não vai mais voar
agora passarinho mora no fundo do mar
o gosto verdinho da folha
o umbuzeiro ainda recordava
quando de bem alto
pássaro de ferro arremessou
passarinho que ali já não estava
depois de enfrentar tanta seca
agora é feito ilha
cercado de água do mar
vive pertinho dos peixes
onde mora Iemanjá

Adriano Yamamoto (30/11/2012 – em memória aos desaparecidos no período dos governos militares na America Latina)

* Segundo Carlos Fico, nos chamados “voos da morte”, as vítimas eram dopadas e atiradas ao mar de um avião. Eram formas de manifestação da política de extermínio: presos os pais “contaminados” pelo comunismo ou pela subversão, sua “reprodução” era supostamente interrompida dando-se seus filhos para serem criados por militares. Fonte: http://www.brasilrecente.com/2011/12/os-voos-da-morte.html

Olhar norte mineiro

seca

(Autor desconhecido)

Quando você voltou do norte
Vi nos seus olhos nublados
Céu sem nuvens, um ar de morte
Olhos de quem sofre duras penas
De quem enterra na terra seca
A esperança de uma gota apenas

Quando você voltou do norte
Vi nos seus olhos escuros
Um povo jogado à própria sorte
Que já nasce e cresce em apuros
Que coice de mula cedo ensina
Lata d’agua na cabeça, dura sina

Quando você voltou do norte
Vi nos seus olhos indiferentes
Que seca é quem mata gado de corte
Não por esporte, mas por dias quentes
O marrom da terra grudou na sua retina
Morte de planta, nem óbito se assina

Adriano Yamamoto – 10/05/2013

* A Região Norte de Minas Gerais enfrenta uma das piores secas de sua história. Mais de 120 municípios já decretaram situação de emergência e, de acordo com lideranças locais, os prejuízos causados nos últimos três anos pelo problema giram na casa dos R$ 500 milhões. Fonte em 26/07/2013 http://www.itatiaia.com.br/noticia/norte-de-minas-gerais-enfrenta-uma-das-piores-secas-da-historia

Mais Simples

formiga_bolha

agora que tenho o mundo em minhas mãos
longe é palavra estranha à imaginação
vejo bem além das montanhas das gerais
mas meu coração quer mais, muito mais

agora, sinto que minto
quando pinto um quadro que não gosto
mas mostro
vejo que o que desejo é mais simples
mais próximo do que costumo olhar

longe é onde não quero estar
veloz é como não quero fazer
profundo é como quero mergulhar
bem fundo, é como tem que ser

quase sempre sonho que durmo
respiro veloz, me acostumo
passa o ponto, quero parar
dou sinal, mas não dá, não dá

Adriano Yamamoto (Data: 30/04/2013)

Afonso Pena com Bahia

Imagem

Acorda flor,
sai cá fora na janela
vem ver o sol
traço de aquarela
é feira na Afonso Pena
olha lá o Rauzito
tira foto, acena

na barraca do Lindorico
quadro de congado, folia de reis
veja bem companheiro!
lá vem o Lula outra vez
pega morena, uma mensagem do buda
a vida tá difícil, quem sabe ajuda

Vander Lee na barraca do chapéu
som na caixa, Alceu, Cartola, Noel
barraca de tropeiro, pamonha, mingau
fígado com jiló? só no mercador central
doce de leite, espetinho pra comer
o Dadá Maravilha! Cadê, cadê?

é feira no domingo,
sai cá fora Maria
na Afonso Pena
na esquina com Bahia

Adriano Yamamoto (Data: 25/02/2013 – Feira que acontece aos domingos em Belo Horizonte/MG. Começa na esquina da Rua da Bahia com Afonso Pena)

Passarinho cantador

À tarde passa por aqui
um passarinho cantador
O danado canta de tudo
saudade, tristeza, amor
Bicho vistoso aqui de Minas
Canta alegre no mercado,
nas casas e esquinas

O passarinho cantador
não se deixa intimidar
Canta sincero, com amor
a melodia popular
Voa sempre nessa trilha
mora no alto da serra
num tal bazar maravilha

Adriano Yamamoto (24/07/2013 – Feito em homenagem aos 25 anos do Bazar maravilha. Rádio Inconfidência. Lido no programa de aniversário)

Bazar

Maria, olha o Bazar
que maravilha, são ondas no ar
gotas de som regional
molha os corações, é nacional
clássicos, anônimos, esquecidos
é roda de viola entre amigos
nesse dias de seca musical
ouvi um zunido, um sinal

Adriano Yamamoto (26/04/2013 – feito para o programa Bazar Maravilha – Inconfidência FM. Lido pelo Tutti no programa do mesmo dia)

Rosa de Alice

Rosa de pano vermelho
Rosa desenhada de giz
Rosa no espelho
Rosa como se quis

Rosa do nascimento
Rosa dos santos
Rosa no esquecimento
Rosa dos encantos

Rosa dos ventos
Rosa de Hiroshima
Rosa dos inventos
Rosa que se aproxima

Rosa da Bahia
Rosa de Alice
Rosa que dizia
Rosalice

Adriano Yamamoto (Data: 02/05/2013 – para minha amiga Rosalice Sampaio)

o, a, os, as

A serpente de luzes e faróis
a borracha grelhando no asfalto
as vitrines, pessoas fisgadas em anzóis
as árvores sozinhas na paisagem
as caixas de cimento e vidro
os pássaros assoviam numa velha abordagem

os olhares rasos no elevador
a fúria do relógio veloz
as palavras frias sem sabor
a cidade de sentido criado
o céu de telha cinza breu
o aroma do amor futilizado

o buquê de árvores pra respirar
as pessoas enlatadas ao redor
o transporte público para navegar
o homem que espalha raízes
as raízes que buscam água
a galeria de pessoas felizes

os fragmentos de plástico com crédito
os sentimentos cozidos à vapor
o vale a pena ver de novo inédito
a engrenagem que não para de girar
a ferrugem dos neurônios ociosos
os meus dias que vão no ar

Adriano Yamamoto (26/02/2013)