Águas de Maria

(Fotografia de Laís Schulz)

(Fotografia de Laís Schulz)

Sobre a roseira no cantinho da praça
correm as águas de Maria
rios que se afastam no tempo
no silencio lento, à luz do dia

a correnteza da vida leva sempre um pedaço
roda de carro de boi, eterno compasso
os rios deságuam sempre num lugar comum
os cardumes se reencontram todos, um a um

deixe que o sol vem nascer o dia
canta Maria! os rios correm pro mar
deixe estar, primavera anuncia

Adriano Yamamoto (Data: 22/05/2013 – para Maria Elisa Xavier)

Rochas cores

Fotografia de Laís Schulz

(Fotografia de Laís Schulz)

Tantas Claras, Laras
Rosas e Marias
No princípio, taras
doces iguarias
No fim, dores
rochas cores

Em seus muitos amores
Julianas e Robertas
Vermelhas cores
feridas abertas
Um sussurro triste
e ela insiste

Nem a morte assombra
essas doces Joanas
Entre alegrias e desgostos
Traz a marca no rosto
Solitárias na noite
o amor e açoite

Vermelho de maçã
bem no espelho
Logo de manhã
a cor de romã
No peito, deleito
a cor do batom
Em áspero tom

Adriano Yamamoto (Data: 07/08/2013)

Prumo

prumo-folhas

é nessa hora que vida vem cobrar
sem patente ou estirpe, sem privilégios a dar
é onde se encontram todos os visitantes
sem classe, mendigos, anônimos e importantes
o inevitável destino, o fim de animais e humanos
paulistas, belo horizontinos, cariocas e baianos
o fim da linha, passagem para o além, ceticismo de ateu
dançou o agiota, o crediário, o que se emprestou ou vendeu

é nessa hora que vida vem cobrar
por gentileza, sorte ou mero azar
o duro ou quem tudo na vida conquistou
quem por força maior, menor, a rua atravessou
o espetáculo deste palco tem sempre hora pra acabar
as cortinas se fecham, último episódio a recordar
o dia derradeiro, nem o empresário, nem o pedinte
o último suspiro, será no dia seguinte?

é nessa hora que o fôlego vem faltar
na saúde pública, na hora de se aposentar
todos se igualam pela limitação da existência
nossa vida frágil atropelada pela violência
morte súbita, matada ou morrida, passional
bala perdida, tiroteio, avançou o sinal
o bom cidadão, o inocente, o culpado, o criminoso
o dono da padaria, o motorista, o religioso

Adriano Yamamoto (Data: 08/01/2013)

Ausência

retrato-preto-branco
Com areia,
logo se ergue
um redemoinho no quintal
e tudo que ao vento segue
Mas sossegue, não faz mal
o fio que tece a razão
sufoca um amor irreal

Rói aos poucos, faminta
Mesmo que minta
e não sinta mais
Sem sinais, pressinta
o meu olhar, nunca mais

A tua ausência arde
Por uma foto antiga
o coração insensato bate
e não há quem diga
nem linha que arremate
Se debate sem medida

Adriano Yamamoto (2013)